segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Palavras sobre Meire Love

Pelo ator, diretor e gente boa Mateus Barbassa:





MEIRE LOVE ou a perda de algo morno e ingênuo que vai ficando no caminho


Hoje fui assistir o espetáculo “Meire Love” do Gupo Bagaceira de Fortaleza e sai do teatro maravilhado com tudo.
Três atores contam a história de garotas de onze, doze e treze anos de idade que se prostituem numa Fortaleza contemporânea.
O enredo é bem simples, é teatro narrativo em sua essência.
Utilizando de quatro praticáveis e três banquinhos, os ótimos atores dão uma verdadeira aula de bom teatro.
Sem fazerem uso de uma caricatura banal dessa meninas ou então cair num processo de vitimização barato da vida delas, o espetáculo apenas “mostra” um dia no cotidiano dessas três “prostitutas”.
Os três atores utilizam-se apenas de um bustiê para contar essa história.
Ao chegar no teatro escutamos músicas da funkeira Tati Quebra-Barraco. O público formado em sua maioria por jovens, canta e arrisca alguns passos ao som do tamborzão.
Os atores entram em cena e apresentam o enredo. Sentam em três bancos e começam a encher sacos plásticos.
Os três atores são Meire 1, Meire 2 e Meire 3.
O espetáculo começa.
Apesar do tema super pesado, as personagens mostradas são vivazes e engraçadas, o riso toma conta de grande parte do público. Elas estão no sinaleiro pedindo esmolas. Ninguém dá. Uma delas pede para um homem estrangeiro pagar uma refeição para ela e sua amiga, em troca promete favores sexuais.
E assim, entre um caso e outro, vamos conhecendo a vida daquelas três garotas.
Uma quarta Meire foi pedida em casamento por um homem gringo, o que só faz aguçar o sonho daquelas garotas de se darem bem na vida.
É um espetáculo incômodo, provocativo, que toca numa ferida muito grande de nosso país, mas, que optamos por não ver. O espetáculo esfrega na nossa cara o nosso próprio cinismo. Clarice Lispector em seu texto “Mineirinho” escreveu: 
Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos.” 
Sim, Clarice nós somos sonsos.
Sim, Clarice queremos dormir e nos salvarmos, talvez até de nós mesmos.
Porque ver é dolorido e exige uma tomada de posição.
É exatamente nesse ponto que o espetáculo “Meire Love” se situa. Utilizando de um teatro narrativo e estático nos faz ver uma cruel verdade: vivemos numa sociedade desigual, onde pessoas vendem seu corpo para não morrerem de fome.
Indo mais além ainda, o espetáculo nos apresenta criaturas que são presas fáceis de uma cultura massificada; que falam (e mal) palavras em inglês o tempo todo, que se chamam por nomes de cantoras pop’s (como Lady Gaga e Beyonce), que sonham com príncipes encantados que a mídia vende como belos, que ouvem bandas que tocam na rádio (como RestartFiukLuan Santana, etc) .
Enfim, se não bastasse toda a exploração que sofrem de seus corpos, ainda são estimuladas por uma mídia absolutamente inescrupulosa, que as fazem engulir goela abaixo toda sorte de porcarias.
Por debaixo dessa cultura massificada, está presente uma lógica perversa: o que aparece é bom e o que é bom aparece. Algo que Guy Debord analisou em seu livro “A sociedade do espetáculo”.
Sim, essas garotas também querem ser vistas, também querem ser feliz como a outra Meire que arranjou um marido rico e que a beija na boca.
Sim, essas garotas do espetáculo são como quaisquer outras da idade delas.
Esse, aliás, é o grande trunfo da encenação.
Querendo ou não, acabamos por nos reconhecer naquelas figuras frágeis, que nem se dão conta de suas fragilidades. Até isso é negado à elas.
Impossível não lembrar da prostituta Cabíria do filme de Fellini. Há algo de inocente que aproxima as Meire’s de Cabíria. Assim como Cabíria, elas só querem encontrar alguém que as amem. Alguém que as reconheça como gente e não como um mero depósito de porra.
Se não há um processo de vitimização das meninas, também não há um processo de culpabilidade dos “turistas” que compram o sexo.
Volto a repetir, é um espetáculo incômodo, há uma perplexidade de não se entender direito os porquês de algumas pessoas terem que se prostituir para comer e outras terem que pagar para obter prazer sexual.
Onde estão as vítimas? Onde estão os culpados? Que sociedade é essa que forma esses comportamentos?
Igualmente impossível não lembrar de Freud e seu livro “O mal-estar da civilização”em que afirma que o sofrimento e a infelicidade são as moedas que pagamos em nome da civilização.
Sim, em “Meire Love” todos (possíveis algozes e possíveis vítimas) parecem sofrer.
Sim, em “Meire Love” todos parecem infelizes.
Não parece haver salvação.
Não parece existir pecado, nem tampouco perdão.
É um espetáculo trágico como o próprio subtítulo já demonstra: uma tragédia lúdica.
É impossível sair ileso dessa experiência teatral proposta por esse grupo.
Em muitas cenas me peguei rindo, chorando e refletindo sobre a condição humana.
Em muitos momentos me peguei lembrando da música “Poema” do Cazuza:
“De repente, a gente vê que perdeu ou está perdendo alguma coisa, morna e ingênua que vai ficando no caminho, que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado pela beleza do que aconteceu há minutos atrás”. 
Talvez essa letra seja a melhor definição do espetáculo “Meire Love”.
Talvez essa letra seja a melhor definição do que vem acontecendo com o ser – humano.
Em “Meire Love” assistimos a perda de algo morno e ingênuo que vai ficando no caminho. Triste espetáculo. Tive uma crise de choro durante a encenação. Não sei ao certo porquê chorei; se pela magnitude da peça, pelo trabalho excelente dos atores ou pelo pungente e urgente tema.
É não sei, mas o que sei é que é tão bom assistir um espetáculo como esse. Sai com as forças renovadas no teatro e ousaria até mesmo dizer que com esperança renovada no ser – humano.
Em que momento nos perdemos de nós mesmos?
Em que momento deixamos de ver no outro nossa própria face refletida?
Em que momento nossa sanha por dinheiro e prazer fez com que o outro seja mero arremedo de satisfação de meus desejos? 
Não, “Meire Love” não respondeu minhas perguntas.
Nem creio que seja esse o papel da obra de arte.
Cabe aos artistas o papel de expor, de enfiar o dedo na ferida, de desferir o soco no estômago para que o público reflita e modifique seu comportamento em sociedade.
Bertolt Brecht foi o escritor que mais radicalizou esse pensamento. Suas peças necessitam da aquiescência do público. Suas peças nunca terminam. Assim como a vida.
É notório que a peça “Meire Love” utiliza-se dos métodos brechtianos de construção estética e de pensamento.
O efeito de desfamilirização aqui é utilizado com propriedade. Tudo no espetáculo é estranho. “Meire Love” não é um espetáculo dramático, muito pelo contrário, não se preocupa em criar no espectador uma falsa ilusão de realidade, não. É teatro encenado como teatro. É teatro para gente grande. Os poucos artifícios de representação cênica estão expostos ao público, não há uma preocupação em escondê-los. Tudo é explícito. No entanto, nada é óbvio. Tudo tem valor dentro da estrutura dramaturgica.
Inclusive comentei com o elenco sobre a pegada pós-dramatica do espetáculo e um dos atores confirmou que a leitura do alemão Hans-Thies Lehmann permeia a linguagem do grupo.
Enfim, fiquei extremamente feliz por assistir algo tão teatral, tão real, tão dolorido e tão bom.
Fica aqui (mais uma vez) meus parabéns ao Gilson Filho por ter trazido mais um espetáculo dessa grandeza. Parabéns também aos atores Rafael Martins, Rogério Mesquita e Yuri Yamamoto por tamanha entrega e generosidade em seus papéis.
O espetáculo volta a se apresentar em Ribeirão Preto no dia 30 de setembro e eu recomendo muitíssimo.


CONFIRAM O BLOG DO MATEUS:http://barbassa.zip.net

Temporada em Ribeirão Preto

No primeiro mês do circuito, ficamos hospedados em Ribeirão Preto. A cidade não fazia parte do circuito do SESI, mas tinhamos um bom motivo de ficar por lá nessa etapa do circuito: Gracyella Santos, ops, Gitirana. A Gracyela fez parte do Bagaceira entre 2001 e 2006 e desde que partiu de Fortaleza está morando em Ribeirão. Foi um mês de muitas alegrias, comemoramos juntos o aniversário dela e colocamos a conversa em dia.

Gracyela

Gilson

Amigos queridos de Ribeirão

A vista do nosso quarto


Gracyella trabalha no Ribeirão em Cena, ong que tem a formação em teatro como um grande pilar e tem no seu comando o impagavel Gilson Filho. Fizemos uma mini temporada em um dos dois (!) teatros da instituição seguidos por instigantes debates após as apresentações.

Durante o mês que estivemos em Ribeirão pudemos conferir uma mostra de espetáculos com grupos da cidade, com Helder Vasconcelos (PE), como convidado apresentando o belissimo Espiral Brinquedo Meu. Também curtimos o Circuito SESC de teatro de Rua, onde presenciamos a apresentação de A Brava , da Brava Companhia (SP).

Enfim, Ribeirão Preto com seus artistas e trabalhadores já está gravado na antologia das nossas melhores memórias...


Mais informações sobre o Ribeirão em Cena: SITE
Rogério Mesquita

domingo, 28 de novembro de 2010

Bagaceira de volta a Rio Preto

Nos dias 18 e 19 de setembro, apresentamos no belissimo teatro do SESI em São José do Rio Preto. Em 2007 participamos do FIT - RIO PRETO com Lesados. Dessa vez passamos o final de semana na cidade, num hotel com uma piscina bem convidativa e bem aproveitada.




Bagacarro

As apresentações foram muito boas. O Dirceu, técnico responsável do teatro foi muito solicito e tivemos na operação da luz e som o diretor e ator Guido Caratori. Muito legal mesmo!! No domingo, após a apresentação percorremos os 204 km que separam São José do Rio Preto e Ribeirão Preto e dormimos bem.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Terceira cidade: Araçatuba

Em 17 de setembro percorremos os 325 Km que separam Ribeirão Preto de Araçatuba para apresentar o espetáculo no pequeno teatro da biblioteca municipal, em única apresentação.

Com um pouco mais de 189 mil habitantes, a cidade estava com um clima bem quente e seco. Chegamos lá logo depois das 14 horas, almoçamos e fomos montar a luz do espetáculo.

O teatro não estava nas suas melhores condições, com vários focos de cupim nos camarins. Porém o técnico responsável era tão gente boa, que tudo correu sem grandes problemas.

Infelizmente foi até agora a nossa menor platéia, com umas 30 pessoas, nos frustrando um pouco, mas enfim, o que podíamos fazer numa ação conjunta SESI e prefeitura?

Dormimos no Pekin Hotel e na manhã seguinte partimos para São José do Rio Preto...





segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Press: Marilia

Segunda cidade: Marilia

Nos dias 11 e 12 de Setembro apresentamos em Marilia, segunda a Wikipedia, a 13ª cidade do interior em número de habitantes. A cidade também é conhecida por ter uma das maiores colônias nipo-descendentes do país.


Depois de muita rodar conseguimos chegar no SESI, onde montamos e afinamos a luz por volta das 14 horas. Corremos para um pequeno Shopping, almoçamos e fomos ao hotel descansar.  Às 17 horas já estavamos de volta no teatro para ensaiar com a operadora de som.




O Sesi da cidade é um dos maiores e o teatro bastante aconchegante. Tivemos casa cheia nos dois dias de apresentação.





Tudo foi tranquilo. Passamos uma noite. Retornamos para Ribeirão Preto logo depois da apresentação de domingo.

Enfim, foi isso...

Rogério Mesquita